A divulgação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) com desaceleração de 0,43% em abril para 0,26% em maio, puxada pela queda na alimentação, que subiu apenas 0,02% (0,83% em abril), deve ser a senha para que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central interrompa o ciclo de alta da taxa básica de juros (Selic), hoje em 14,75% ao ano. A queda do preço dos alimentos foi puxada pela redução de itens como tomate (13,52%), arroz (-4%), ovo de galinha (-3,98) e das frutas (-1,67%), contribuindo para a desaceleração alimentação no domicílio em 12 meses, que recuou de uma alta acumulada de 7,88% para 7,19%. No geral, o IPCA em 12 meses caiu de 5,53% em abril para 5,32% em maio.
Apesar de ainda estar bem acima da meta para o ano, fixada em 3% com margem de 1,5 ponto para mais ou para menos, o que significa que o IPCA do mês ado está 0,82 ponto porcentual acima do teto da meta. A perspectiva é de que os preços dos alimentos continuem registrando queda, com a entrada da safra e queda dos preços das commodities – o Banco Mundial prevê queda de 7% nos preços dos alimentos neste ano. “Para os próximos meses, a sazonalidade favorável deverá permitir que ocorra deflação nos alimentos no domicílio. Além disso, a apreciação do real deverá contribuir para uma desaceleração do segmento de bens industriais”.
E com esse cenário, os diretores do Banco Central se reúnem na próxima terça-feira para decidir a taxa básica de juros, com o mercado já considerando a manutenção da Selic em 14,75% ao ano, mas já começando a imaginar quando o BC iniciará um ciclo de corte das taxas de juros. “O resultado do IPCA abaixo do esperado surpreendeu positivamente o mercado. Esse cenário abre margem para que o Banco Central avalie o encerramento do atual ciclo de alta de juros ou, eventualmente, considere um corte nas próximas reuniões”, afirma Paulo, CEO da iHub Investimentos.
“A leitura de maio mostra um contexto mais benigno para a inflação que reflete a apreciação cambial e os impactos do juros altos. Apesar de ainda estar bastante acima do limite superior do intervalo ao redor da meta, certamente os números divulgados darão mais conforto para os membros do Copom encerrarem o ciclo de alta da Selic na próxima reunião”, afirma Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad. Para ele, no entanto, ainda é cedo para o Copom iniciar a redução dos juros. “Será necessário observar progressos muito mais significativos nos próximos meses, além da ancoragem das expectativas para que um novo ciclo de reduções de juros possa ser contemplado”, avalia Igliori.
Outro ponto que o IPCA de maio mostra é o fato de a difusão dos reajustes cair de 66% em abril para 60% no mês ado. “Uma das principais causas dessa queda é a redução da difusção de alimentos, grupo com maior quantidade de componentes, que ou de 66% para 57%. Outra boa notícia foi a potencial pressão do mercado de trabalho aquecido sobre a inflação de serviços que segue sem causar grandes efeitos”, afirma Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital.
Tatiana acredita, no entanto, que o Banco Central vá interromper o ciclo de alta na próxima reunião do Copom. “Por mais que o resultado do IPCA de maio tenha sido mais favorável, com atividade ainda resiliente e abertura da inflação corrente mostrando os itens sensíveis à política monetária ainda pressionados, mantemos nossa expectativa de alta adicional de 25 pontos em junho, com o encerramento de ciclo de alta de juros em 15%.
US$ 16,7 bi
Foi o valor das exportações brasileiras para os Estados Unidos entre janeiro e maio deste ano, com alta de 5% sobre o mesmo período de 2024, segundo dado da Amcham Brasil
Perdas na parada
O estudo “Panorama de Paradas de Manutenção”, feito pela Timenow, especializada em gestão de projetos industriais, mostra que cerca de 50% das empresas enfrentam atrasos superiores a 5% em suas grandes paradas industriais. Outros 23% reportaram atrasos superiores a 10%. “(Esses atrasos) geram impactos relevantes em produção, custos e indicadores de performance”, avalia Wester Cardozo, diretor de operações da Timenow.
Energia cara
Vilã da inflação de maio, a energia elétrica registrou aumentos expressivos nos últimos 15 anos. Um estudo da Abraceel, mostra que nesse período as tarifas da eletricidade subiram de R$ 112/MWh em 2010 para R$ 310/MWh em 2024, o que representa um aumento de 177%, o que significa alta 55 pontos percentuais acima da inflação oficial do período, medida pelo IPCA, que foi de 122%. No mercado livre, o preço de longo prazo subiu 44%.